sábado, 27 de fevereiro de 2021

OS 100 ANOS DE ZÉ DANTAS: O SERTÃO EM PESSOA

 

Foto: Reprodução


Este dia 27 de fevereiro é bastante especial para música brasileira. Em 2021 então mais ainda por ser o centenário de nascimento de um dos compositores mais geniais que passaram por esse país e um dos maiores parceiros do Rei do Baião. Estamos falando de Zé Dantas.

José de Sousa Dantas Filho nasceu em Carnaíba das Flores, Pernambuco, em 27 de fevereiro de 1921 - há exatos 100 anos. Ele foi o autor de canções que marcaram a carreira de Gonzagão e a música popular brasileira, como “A volta da asa branca”, “O xote das meninas”, “Riacho do Navio”, “Vozes da seca”, “Sabiá”, entre outras. 

Filho de um abastado dono de terras da região, o coronel Zeca Dantas, Zé Dantas começou cedo no mundo das letras escrevendo crônicas sobre folclore para uma revista chamada “Formação” do Colégio Americano Batista de Recife, onde foi estudar ainda jovem.

Costumava passar as férias escolares no sertão, quando sempre estava presente nos bailes realizados nas redondezas da fazenda da família. Nessas festas ouviu e guardou muitos versos populares, que mais tarde seriam fontes para suas composições.

Estudante de medicina, desenvolveu sua habilidade em escrever e compor canções baseadas justamente no folclore nordestino que anos antes tratava na revista do colégio. Tamanha era sua capacidade intelectual, Zé Dantas não necessitava de instrumentos musicais para acompanhar suas composições. Uma simples caixa de fósforos era o suficiente para dar o tom certo de suas criações.


Foto: Autor desconhecido


Como todo apreciador da cultura, Zé Dantas era profundo admirador do Rei do Baião. Certa vez, em 1947, Luiz Gonzaga esteve na capital de Pernambuco para algumas apresentações e reuniões com patrocinadores, quando o compositor foi até o seu encontro no Grande Hotel de Recife, onde o Velho Lua estava hospedado.

Durante a conversa, Zé Dantas mostrou seu repertório ao sanfoneiro, que ficou admirado com as músicas compostas pelo então futuro médico. Tanto que Gonzaga saiu de Recife já com a certeza de gravar aquelas músicas com mote puramente sertanejo que tanto lhe agradaram - na construção de sua biografia no livro "O Sanfoneiro do Riacho da Brígida", de Sinval Sá, Gonzagão declarou que via o próprio sertão no rosto de Zé Dantas. 

Porém, uma condição foi imposta pelo então novo parceiro musical: que seu nome não figurasse na autoria em virtude de não agradar o seu pai coronel, que não queria o filho envolvido com a vida artística. Obviamente Luiz Gonzaga não atendeu ao pedido do jovem compositor e levou ao mundo toda a genialidade da obra de Zé Dantas com sua voz e sanfona. A partir do momento em que mostrou a Luiz Gonzaga suas primeiras composições não parou mais de fazer parceria com o sanfoneiro. Tanto que passou a acompanhá-lo em diversas gravações, shows e produções diversas.


Foto: Autor desconhecido


Nos começo dos anos 50 chegou a apresentar um programa na Rádio Jornal do Commércio do Recife, mas logo o compositor mudou-se para o Rio de Janeiro a fim de fazer residência médica em obstetrícia, chegando a trabalhar no Hospital dos Servidores da então capital federal.

Ainda nos anos 50, além das músicas compostas para vários artistas, dentre eles Marinês, Carmélia Alves, Jackson do Pandeiro e Quinteto Violado, Zé Dantas voltou ao rádio com o programa "No mundo do baião", na poderosa Rádio Nacional, em que era o seu produtor juntamente com Humberto Teixeira, outro grande parceiro do Rei Baião, e cuja atração era apresentada pelo radialista Paulo Roberto. Luiz Gonzaga interagia com o apresentador e com o público ouvinte não só cantando, mas fazendo representações e descrições auditivas típicas do cotidiano nordestino.

Ao todo foram mais de 50 músicas compostas para o repertório de Luiz Gonzaga, entre 1949 e 1962, fazendo-o um dos parceiros que mais contribuíram para a carreira do Rei do Baião. Suas primeiras composições em parceria com Gonzagão foram "Vem, morena" e "Forró de Mané Vito".


Foto: Arquivo pessoal família Dantas


Zé Dantas casou-se em 1954 com Yolanda Dantas (foto acima), então professora do ensino primário do interior de Pernambuco. Para a amada fez uma letra especial gravada por Luiz Gonzaga: “A letra I”, como sendo uma declaração de amor à sua querida noiva (apesar de ter seu nome com Y). O compositor teve três filhos com Yolanda. A cantora potiguar Marina Elali é neta de Zé Dantas e segue carreira musical.

A saúde do compositor veio a ficar comprometida no início dos anos 60 após problemas no fígado e na coluna vertebral, levando-o à morte em 11 de março de 1962 com apenas 41 anos. Luiz Gonzaga perdia um de seus grandes parceiros musicais, assim como a música brasileira ficava órfã de um de seus mais geniais compositores do cancioneiro regional.  

Em 2010, a Secretaria de Cultura da Prefeitura da cidade de Recife em parceria com a Fundação de Cultura Cidade do Recife lançou o livro "Zé Dantas segundo a letra I". Na obra, sua esposa Yolanda deu vários depoimentos sobre sua vida e sua carreira artística. O livro ainda trouxe fotos inéditas, além de dois artigos sobre música escritos pelo próprio compositor.

Em 2012, sua neta Marina Elali lançou o DVD "Duetos – Homenagem a Luiz Gonzaga e Zé Dantas", justamente no ano do centenário do Rei do Baião, o maior parceiro musical de seu avô. Dentre as participações de vários artistas nas gravações, Marina cantou junto com Zé Dantas a música especialmente dedicada à avó Yolanda, "A letra I", em que pela primeira vez o público ouvia o compositor cantando.

Até hoje, mesmo após quase 60 anos de sua partida, Zé Dantas ainda é referência para vários artistas, que não deixam seu rico legado ser esquecido. Então fica aqui nossa eterna reverência a esta grande personalidade de nossa música - e também nosso agradecimento por engrandecer ainda mais a obra do Rei do Baião.

Abaixo, dois dos grandes sucessos da dupla.




O Xote das meninas - Luiz Gonzaga/Zé Dantas (1963) - Com Dominguinhos e João Bosco


"Mandacaru quando fulora na seca
É o sinal que a chuva chega no sertão
Toda menina que enjoa da boneca
É sinal de que o amor já chegou no coração
Meia comprida, não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado, não quer mais vestir de mão

Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...

De manhã cedo 
Já tá pintada
Só vive suspirando 
Sonhando acordada

E o pai leva ao doutor
A filha adoentada
Não come, nem estuda
Não dorme, não quer nada...

Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar...

Mas o doutor 
Nem examina
Chamando o pai do lado
Lhe diz logo em surdina

Que o mal é da idade
E que prá tal menina
Não tem um só remédio
Em toda medicina...

Ela só quer
Só pensa em namorar
Ela só quer
Só pensa em namorar..."





Riacho do Navio - Luiz Gonzaga/Zé Dantas (1955) - Com Geraldo Azevedo e Alceu Valença


"Riacho do Navio
Corre pro Pajeú
O Rio Pajeú vai despejar
No São Francisco
O Rio São Francisco
Vai bater no meio do mar
O Rio São Francisco
Vai bater no meio do mar...

Riacho do Navio
Corre pro Pajeú
O Rio Pajeú vai despejar
No São Francisco
O Rio São Francisco
Vai bater no meio do mar
O Rio São Francisco
Vai bater no meio do mar...

Ah, se eu fosse um peixe
Ao contrário do rio
Nadava contra as águas
E nesse desafio

Saía lá do mar pro
Riacho do Navio
Eu ia direitinho pro
Riacho do Navio

Pra ver os meus brejinhos
Fazer umas caçadas
Ver as pegs de boi
Andar nas vaquejadas

Dormir ao som do chocalho
E acordar com a passarada
Sem rádio e sem notícia
Das terra civilizadas
Sem rádio e sem notícia
Das terra civilizadas..."


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

O REI DO BAIÃO NO REINO DE MOMO

 

Foto: Otávio Magalhães


É carnaval! E o reino de Momo abriu suas portas para outra majestade - a do Baião. E como toda festa tradicional no Brasil o Rei do Baião mergulhou nela para incorporá-lo em sua obra. Entre 1945 e 1950 e depois voltando nos anos 80, Luiz Gonzaga enveredou pelos ritmos carnavalescos embalando os foliões pelo país a fora.

Sua primeira gravação para a folia momesca se deu em 1945, na composição sua e de Miguel Lima chamada "Ovo Azul". Depois daí vieram outros grandes sucessos pro carnaval com marchinhas, frevos, sambas, maracatus, choros e até a guitarra elétrica baiana.


Foto: Geyson Magno/UOL


A partir de 1951, já coroado como o Rei do Baião, Gonzaga deixou um pouco de lado o carnaval na sua obra para se dedicar quase que integralmente ao baião, que estava no auge naquele período da era de ouro do rádio brasileiro. Em 1989, já no final de sua carreira, voltou a incluir em seu repertório músicas carnavalescas com o tradicional frevo de seu estado Pernambuco.


Foto: Pablo Jacob/Agência Globo


Durante o período de carnaval já foram feitas várias homenagens ao Rei do Baião - a primeira com a escola de samba carioca Unidos de Lucas com a presença do homenageado na Sapucaí (primeira foto da postagem). Transformou a vida e obra do sanfoneiro em samba-enredo, "Lua Viajante", e faturou o Estandarte de Ouro daquele ano. 

Já em 2012 foi a vez da Unidos da Tijuca, também do Rio de Janeiro (foto acima), reverenciar o centenário do cantador de Exu e levar o título de campeã do carnaval com o samba-enredo "O dia em que toda a realeza desembarcou na avenida para coroar o rei Luiz do Sertão". 

Finalmente em 2017 a obra de Luiz Gonzaga voltou à passarela do samba, mais precisamente em São Paulo com a escola Dragões da Real, agremiação fundada em 2000. O samba-enredo teve como tema a clássica "Asa Branca", toada de Gonzagão e de Humberto Teixeira composta em 1947 e que completava 70 anos de gravação.


Foto: Anderson Maia/Blog Agenda Cultural do Recife


Foto: Isabela Lopes


Os blocos de rua pelo país também abrem espaço para o Rei do Baião no carnaval. Bons exemplos são os de Olinda, o tradicionalíssimo "Galo da Madrugada" de Recife com seus mais de 1 milhão de foliões e o "Baião de Rua" de Belo Horizonte (foto acima). 

E a Bahia também foi palco pra sanfona de Luiz Gonzaga e Dominguinhos. A convite do cantor e compositor baiano Gereba, a dupla de sanfoneiros e D. Helena, esposa do Velho Lua, subiram no trio "Carnaforró" no circuito Avenida em pleno reduto do Axé Music no ano de 1986 e foram celebrados por uma multidão de pessoas extasiadas com as maiores vozes nordestinas da história musical. Foram 4 dias de muito carnaval ao som dos foles dos pernambucanos arretados. 

No final desta postagem você poderá conferir este momento histórico do carnaval baiano.


Foto: Reprodução/Youtube


Ou seja, se tem festa tradicional do Brasil tem que estar no repertório do Rei do Baião, pois como grande apreciador e divulgador da cultura nacional não poderia deixar de fora um período tão importante e que tanto identifica o nosso país mundo a fora como o carnaval. 





sábado, 13 de fevereiro de 2021

DOMINGUINHOS 80 ANOS

Foto: Deco Rodrigues/Editora Globo


Dia 12 de fevereiro passado foi uma data especial para a música brasileira, especialmente a nordestina. Pois foi neste dia há exatos 80 anos que nascia José Domingos de Moraes, ou simplesmente Neném do Acordeom ou Dominguinhos. Veio ao mundo em Garanhuns, Pernambuco, no ano de 1941 e deixou um imenso tesouro para os amantes da música popular brasileira, sobretudo do forró.

Desde criança teve o dom musical na família. Seu pai, Mestre Chicão, era sanfoneiro e seus irmãos, Moraes e Valdomiro, formavam junto com o pequeno Neném (como Dominguinhos era conhecido antes do estrelato) o trio “Três Pinguins”. Começou a tocar fole de 8 baixos com 6 anos de idade e passou a se apresentar nas feiras livres e portas de hotéis da cidade em busca de alguns trocados para ajudar a família.

Foi numa dessas apresentações que José Domingos conheceu Luiz Gonzaga, na porta do hotel Tavares Correia, no ano de 1948 e, a partir daí, sua vida mudou radicalmente. Primeiramente foi estudar no Recife, mas diante das dificuldades financeiras da família seguiu para o Rio de Janeiro junto com seus pais num pau de arara, como retirante, em 1954 e lá procurou o Velho Lua, que prontamente ajudou a família e ainda deu uma sanfona de 80 baixos ao Mestre Chicão.


Foto: Reprodução


A partir de então Neném passou a acompanhar Luiz Gonzaga em seus ensaios, gravações e apresentações, criando um forte vínculo de afetividade entre ambos até o fim da vida de ambos. 

Em 1957, Dominguinhos foi surpreendido por Gonzaga quando lhe anunciou como herdeiro artístico e o colocou em estúdio pela primeira vez para gravar uma música acompanhando-o na sanfona - "Forró no escuro", de autoria do Rei do Baião. O anúncio foi realizado em uma entrevista à revista Radiolândia naquele mesmo ano e Luiz Gonzaga o fez com essas palavras:

“Ouçam bem esse cabra, o Dominguinho (sic). Toca pá daná e canta no jeito dos Gonzagas. Podem tomar nota: ele vai ser meu herdeiro artístico. Digo isso com a maior sinceridade e estou pronto a apoiar a sua carreira”. 

De 1957 a 1958, Dominguinhos integrou a primeira formação do grupo Trio Nordestino, ao lado de Zito Borborema e Miudinho, que até pouco tempo então acompanhavam o grupo de Luiz Gonzaga. Depois de deixar o Trio Nordestino em 1958, continuou a se apresentar em programas de rádio e casas noturnas, até gravar seu primeiro disco, o LP “Fim de festa” em 1964. Como curiosidade, o produtor deste disco foi Pedro Sertanejo, pai de outro mestre da sanfona: Oswaldinho do Acordeon. 


Foto: Jorge Rosenberg


Ter acompanhado Luiz Gonzaga por quase 40 anos fez com que Dominguinhos ganhasse reputação como grande músico e arranjador, aproximando-se de artistas consagrados nos anos 70 e 80. Foram vários trabalhos em parceria com artistas do primeiro escalão musical brasileiro, tais como Nara Leão, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa, Elba Ramalho, Chico Buarque, Fagner, Toquinho e outros. 

Sua grande parceira de composições foi Anastácia, com a qual também foi casado por vários anos. Com a compositora pernambucana foram criadas mais de duzentas músicas.

Com o passar do tempo, a carreira de Dominguinhos acabou por se consolidar em uma trajetória própria, incluindo gêneros musicais diversos em seu repertório como bossa nova, jazz e pop. Ou seja, o sanfoneiro mostrava de uma vez por todas ser um músico completo. 

Ao longo de mais de 50 anos de música, Dominguinhos ganhou diversos prêmios por sua obra. Dois Grammys latinos, Prêmio Tim de Música Brasileira e Prêmio Shell de Música foram alguns dos reconhecimentos à obra valiosíssima do mestre. 


Foto: Eduardo Enomoto/R7


Nos últimos anos sua saúde começou a dar sinais de que não estava bem, tanto que foi diagnosticado com um câncer de pulmão em 2007, doença com a qual lutou bravamente por seis anos. Quis o destino que sua última apresentação se desse nos festejos do centenário de seu pai artístico Luiz Gonzaga em Exu em dezembro de 2012.

De Exu praticamente já seguiu para um hospital em Recife com quadro de arritmia cardíaca e problemas respiratórios. Dominguinhos chegou a ser transferido para São Paulo, mas veio a falecer em 23 de julho de 2013 aos 71 anos. Deixou um grande legado para as futuras gerações e deu seguimento ao reinado de Luiz Gonzaga com muita competência. Até hoje sua obra é reverenciada e assim será por várias e várias gerações.

Parabéns, Dominguinhos, pelo 80 anos de vida! Pois morre a pessoa, mas o artista nunca morrerá, ainda mais sendo alguém que deixou uma obra tão rica para a cultura nacional.

Abaixo, um pout-porri com músicas do próprio Dominguinhos e Luiz Gonzaga num show realizado no Rio de Janeiro, além de histórias e causos divertidos contados pelo sanfoneiro como era uma de suas marcas registradas.




Carece de explicação - Dominguinhos/Clodo (1979)


"Na pressa que eu tava
Não pude esperar
Eu vivo fugindo pra outro lugar
Aonde a tristeza não saiba que fui
E a felicidade vá lá.

Me pegue de novo no colo
Me faça de novo menino
Não deixe que eu morra de medo
Não deixe que eu durma sozinho.

Chega um tempo na vida
Em que a gente presta atenção
Vê que nem tudo no mundo
Carece de explicação.

Sendo assim sou mais forte
Vendo assim sou mais eu
E vou vivendo apesar
Do amor que você não me deu."


Bença, mãe - Bob Nélson (1968)


"De manhã muito cedinho 
Vi meu mano levantar 
Acender o candeeiro 
Começou a se arrumar.
 
Me dizendo bem baixinho 
Mano eu vou viajar 
Tu toma conta de mãe 
Diz pra ela não chorar.

E lá da curva da estrada 
Eu vi meu mano acenar 
Adeus mano, adeus mano, ai ai.. 
Adeus mano, a bença, mãe, ai, ai...

Virgem Maria, mãe do Senhor 
Tudo morreu, tudo murchou
Peço por Deus paz no sertão 
Traz meu irmão, acaba esse horror .

Não quero ouvir nunca mais 
O mano outra vez gritar 
Adeus, mano, adeus, mano, ai, ai...
Adeus, mano, a bença, mãe ai ai..."


Numa sala de reboco - Luiz Gonzaga/José Marcolino (1964)


"Todo tempo quanto houver pra mim é pouco
Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco
Todo tempo quanto houver pra mim é pouco
Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco.

Enquanto o fole tá tocando, tá gemendo
Vou dançando e vou dizendo meu sofrer pra ela só
E ninguém nota que eu estou lhe conversando
E nosso amor vai aumentando pra coisa mais melhor.

Todo tempo quanto houver pra mim é pouco
Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco
Todo tempo quanto houver pra mim é pouco
Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco.

Só fico triste quando o dia amanhece
Ai, meu Deus, se eu pudesse acabar a separação
Pra nós viver igualado a sanguessuga
E nosso amor pede mais fuga do que essa que nos dão.

Todo tempo quanto houver pra mim é pouco
Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco
Todo tempo quanto houver pra mim é pouco
Pra dançar com meu benzinho numa sala de reboco."


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

HISTÓRIAS DE ZÉ GONZAGA - POR JOQUINHA GONZAGA

 

Foto: Divulgação


Ainda na esteira do centenário de Zé Gonzaga no dia 15 de janeiro passado, comentado na postagem anterior, trazemos aqui algumas histórias do sanfoneiro contadas pelo seu sobrinho, e também acordeonista, Joquinha Gonzaga em seu canal oficial no Youtube. Clique no link para se conhecer e se inscrever.

A família Gonzaga é repleta de causos pitorescos ao longo de sua existência, principalmente envolvendo os irmãos músicos Luiz, Zé, Severino e Chiquinha, além, claro, do sobrinho Joquinha.

Confira o vídeo.





sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

O CENTENÁRIO DO REI DA ALEGRIA

Foto: Autor desconhecido


Hoje é um dia especial para a música popular brasileira, sobretudo a nordestina. Há exatos 100 anos, em 15 de janeiro de 1921, no sopé da Serra do Araripe em Exu/PE, o mundo ficava mais alegre com o nascimento de José Januário Gonzaga do Nascimento, ou simplesmente Zé Gonzaga, o futuro "Rei da Alegria" e um dos maiores sanfoneiros que este país já conheceu. 

E como o nome e a aparência deixam bem explícitos, Zé Gonzaga era irmão do Rei do Baião Luiz Gonzaga e filho de Januário e Santana - o quinto filho da família até aquele momento. Assim como o Velho Lua, Zé desde menino acompanhou seu pai na oficina de consertos de fole e nos bailes em que o patriarca animava. Assim ganhou também o gosto pela música.

Como toda a família, ajudava na agricultura também. Mas logo jovem tentou uma vida melhor fora do sertão pernambucano. Não chegou a fugir de casa como o irmão famoso, mas partiu rumo ao Rio de Janeiro num pau de arara que pegou em Petrolina depois de muitos dias de viagem. Na então capital federal não conseguiu emprego, então seguiu para São Paulo, onde finalmente arrumou trabalho na agricultura.

Porém, soube do paradeiro de Luiz Gonzaga por meio de uma carta enviada por sua mãe. Assim, voltou para o Rio de Janeiro, onde Gonzagão havia dado baixa do Exército e fixado moradia. Os irmãos, então passaram a morar juntos numa pensão e Zé ajudava carregando a sanfona de Luiz. Algum tempo depois novamente seguiu os passos do irmão mais velho e sentou praça nas Forças Armadas e por muito pouco não participou da II Guerra Mundial com a FEB (Força Expedicionária Brasileira) na Itália.


Foto: Autor desconhecido


Quando deixou o Exército em meados dos anos 40, Zé Gonzaga voltou a acompanhar seu irmão Luiz que, naquele momento, já era um respeitado músico. Tanto que o Rei do Baião, reconhecendo seu grande talento e sabendo que teria futuro no ramo, presenteou-lhe com uma sanfona de 120 baixos. Sua primeira incursão nos palcos se deu na casa noturna Novo México, na Lapa. 

Zé Gonzaga era extremamente talentoso, principalmente tocando fole de 8 baixos, e logo chamou a atenção como tocador, cantor e compositor nos programas de calouros. Tanto que em 1948 foi contratado pela Rádio Guanabara com uma indicação do irmão famoso. No ano seguinte foi a vez de gravar seu primeiro disco com as músicas "Teimoso", de sua autoria, e "Vira o outro lado", de Cipó. Logo atingiu sucesso.

Ainda em 1949, com seu nome estourando nas paradas, Zé Gonzaga foi convidado pelo teatrólogo Geysa Bôscoli para sua primeira turnê internacional, antes mesmo até de Luiz Gonzaga. O sanfoneiro embarcava para Buenos Aires a fim de mostrar seu repertório aos "hermanos". Já em 1950 faria sua primeira viagem além do oceano Atlântico, quando fez parte da caravana capitaneada por Assis Chateaubriand até Paris a fim de divulgar o café e a cultura brasileiros no Casino Deauville.

Mas a relação entre os irmãos era um tanto quanto conturbada, principalmente após o sucesso do mais novo e por causa do nome artístico que passou a usar depois que oi contratado pela TV Tupi e pela gravadora Star. Passou a ser conhecido finalmente como Zé Gonzaga. Seu irmão Luiz não gostou muito da ideia, chegando até a proibir o caçula a se apresentar usando esta alcunha. Houve até notícias nas revistas e jornais a respeito do caso na época.

Segundo o próprio Luiz Gonzaga numa entrevista para tentar esclarecer a situação, Zé havia descumprido um trato entre ambos. O combinado era de usar o nome José Januário em homenagem ao pai, o que, como pode ser visto, não foi adiante e gerou toda essa celeuma.


Foto: Autor desconhecido (Luiz do lado esquerdo de Januário e Zé, de gravata)


Além do entrevero com Luiz Gonzaga por causa do nome artístico, Zé ainda teve outra de muitas confusões com o irmão por conta de sua carreira. Quando da gravação de seu primeiro LP pela Copacabana em 1957, intitulou-o de "Zé Gonzaga, sua sanfona e sua simpatia". Esta alcunha fora dada a Gonzagão por Paulo Gracindo algum tempo atrás. Obviamente o Rei do Baião lhe cobrou satisfações por mais essa encrenca.

Desavenças familiares à parte, Zé Gonzaga conseguiu seu brilho particular apesar de ter um irmão mais famoso. Foi um inovador de ritmos, pois não ficou preso à sombra do forró autêntico do Rei do Baião. Com sua sanfona tocou e cantou sambas, boogie-woogies, frevos, marchinhas, boleros e etc. Chegou a ficar conhecido como o "forró ostentação", pois ao contrário de Luiz, Zé gostava de badalação, de boemia, era mulherengo e gostava de carros. Tanto que o primeiro que adquiriu fez questão de posar para foto no capô muito bem vestido.

Seu primeiro grande sucesso musical se deu em 1950 com "Disco Voador", de José Gonçalves e Abelardo Barbosa - o famoso Chacrinha. Além desta, estourou também com "O cheiro da Carolina" em 1956, de sua autoria com Amorim Rego e que Luiz Gonzaga regravou. Em 1957 foi a vez de gravar "Pisa na fulô", de Ernesto Pires, João do Vale e Silveira Júnior, rendendo ao sanfoneiro grande repercussão e regravações com outros artistas renomados como Ivon Cury e Marinês. Em 1963 gravou mais uma música que chegou ao topo das paradas: "Baile da tartaruga", de Jaime Florence, Osmar Safety e Augusto Mesquita.

Uma de suas músicas que tocava nas apresentações, "Catingueira do sertão", tem melodia idêntica à "Juazeiro", de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira (1949). Zé Gonzaga sempre frisou em suas entrevistas e shows que esta canção foi retirada da original citada acima, que era de autoria de seu pai Januário e que o irmão "roubou" para colocar uma letra diferente.

Outro fato interessante envolvendo os dois irmãos, desta vez para o bem, aconteceu em 1951, quando compôs ao lado de José Amâncio e gravou "Viva o rei" em homenagem a Luiz Gonzaga por ter escapado com vida de um acidente automobilístico ocorrido naquele mesmo ano. Dezessete anos mais tarde Gonzagão regravou a música. O Rei do Baião, inclusive, sempre frisou que o melhor sanfoneiro da família era Zé Gonzaga - depois do pai Januário, obviamente.

Zé Gonzaga também compunha músicas e fez parcerias de peso com Humberto Teixeira, Zé Dantas, João do Vale, Abelardo Barbosa (Chacrinha) e o próprio irmão Luiz Gonzaga, como por exemplo na canção "Forró de Quelemente", de Gonzagão com Zé Dantas. Viajou de norte a sul do Brasil e ficou nacionalmente conhecido como o "Rei da alegria" por seu sorriso fácil e por ser muito comunicativo e extrovertido. 

O sanfoneiro tinha múltiplos talentos e os emprestou juntamente com sua alegria também ao cinema, participando do filme "Rico ri à toa" em 1957, dirigido por Roberto Farias. Abaixo você pode conferir um trecho do longa metragem e o número musical "Zé da Onça" com Zé Gonzaga na sanfona e no vocal ao lado de Silvinha Chiozzo.




A partir dos anos 60, assim como Luiz Gonzaga, Zé começou a ter seu espaço na grande mídia bastante reduzido em virtude da febre de novos ritmos que surgiam no país, como a Bossa nova, a Tropicália e a Jovem guarda. Passou a gravar menos e se dedicar mais aos shows pelo país. 

Ao todo em sua carreira foram 15 discos lançados em vida e um póstumo. Em 2002, aos 82 anos em 12 de abril, o vozerão, a sanfona e a alegria de Zé Gonzaga parou de ecoar, vindo a falecer de problemas cardíacos. Na verdade parou presencialmente, porque em termos de legado sua presença e sua alegria estarão marcadas para outros muitos 100 anos de história como bom rei que se tornou.




Baile da Tartaruga - Jaime Florence/Osmar Safety/Augusto Mesquita (1963)


"Tartaruga deu um baile
A bicharada toda foi
O leão se embebedou
E todo mundo provocou
Provocou, provocou...

Briga no salão
Uma grande confusão
Por causa do leão
Quiseram cortar
A juba do leão
Ai que começou a confusão

Tartaruga deu um baile
A bicharada toda foi
O leão se embebedou
E todo mundo provocou
Provocou, provocou...

Nesse bafafá
Coitado do gambá
Chorava pra danar
Porque o leão
Bebendo sem parar
Virou da festa o beberrão

Tartaruga deu um baile
A bicharada toda foi
O leão se embebedou
E todo mundo provocou
Provocou, provocou..."





Disco voador - José Gonçalves/Abelardo Barbosa (1950)


"Eu vi, eu vi, eu vi
Um disco voador
Eram duas horas da manhã
Quando ele passou

A noite estava clara como o dia
Céu estreladinho como quer
Mas de repente desapareceu
E nada mais aconteceu

Um disco que é da Terra
Quando visto no além
Finalmente ninguém sabe
De onde é que ele vem

Vovó está assombrada
Com o que dizem por aí
No dia em que ele cair
O mundo vai se dividir."





Viva o Rei - Zé Gonzaga/José Amâncio (1951)


"Luiz Gonzaga não morreu
Nem a sanfona dele desapareceu
Seu automóvel na virada se quebrou
Seu zabumba se amassou
Mas o Gonzaga não morreu

O Catamilho
Seu zabumbeiro de fama
Danou a cara na lama
Quase morre o pobrezinho

E o Zequinha
O famoso rei do passo
Quase que virou bagaço
Com a pancada no focinho
Ah, coitadinho!

Luiz, escuta esse baião
Quem tá cantando com a sanfona é teu irmão
Ta esperando todo o povo brasileiro
O seu grande sanfoneiro
Com as cantigas do sertão."


segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

O FORRÓ FICA SEM SEU ARTESÃO E REI DOS OITO BAIXOS

 

Foto: Reprodução/Internet


O Dia Nacional do Forró é normalmente uma data para ser comemorada pelos amantes da boa música nordestina, sobretudo porque neste dia nasceu o seu maior expoente - o Rei do Baião Luiz Gonzaga.

Entretanto o dia 13 de dezembro também tem seu momento triste. E quis o destino que justamente na data em que saudamos o bom e velho forró, perdêssemos um de seus precursores e grandes nomes da história do gênero. Faleceu ontem, no Rio de Janeiro, Zé Calixto, aos 87 anos de uma vida inteiramente dedicada à arte deixada por Gonzagão e fielmente seguida por ele.

José Calixto da Silva nasceu em Campina Grande/PB em 16/07/1933. Filho de um sanfoneiro de 8 baixos, não demorou para absorver a arte do pai. Aos 8 anos observava seu genitor tocar e já arriscava algumas notas. Aos 12, já tocava em festas na região com a maestria que lhe consagraria pelas próximas sete décadas. Foi nesta época de início de carreira na Paraíba que Zé Calixto conheceu outros dois ícones da música nordestina: Jackson do Pandeiro e Genival Lacerda.

Em 1959 partiu rumo ao Rio de Janeiro para uma série de gravações e por lá na capital carioca fixou residência até o fim de sua vida. Pegando carona no furor que Luiz Gonzaga causara na época com seu baião, Zé Calixto não tardou a fazer sucesso também. No ano seguinte já estava gravando vários forrós, dentre eles "Forró em Serra Branca", "Forró em Campina Grande" e "Bodocongó".  Seu primeiro disco gravado intitulou-se "Zé Calixto e sua sanfona de oito baixos" neste mesmo ano. Com seu pé de bode, Calixto agradou e muito a crítica, tanto que a gravadora Philips lhe contratou em 1961 para lançar vários discos. E a partir daí especializou-se no forró junino.


Foto: Reprodução/LP "Forrozão 88"


Durante a década de 60 percorreu o Brasil em várias apresentações ao lado dos conterrâneos, colegas de profissão e amigos Genival Lacerda e Jackson do Pandeiro.

Zé Calixto passou por outras gravadora além da Philips ao longo de sua brilhante carreira, como a Tapecá, CBS, EMI-Odeon e Continental, tendo deixando um tesouro artístico composto por 29 discos entre LPs e CDs.

Também ao longo de seus 60 anos de carreira fez diversas parcerias musicais, como as já ditas com Jackson do Pandeiro e Genival Lacerda, além de outro gênio da sanfona como Sivuca, Camarão, Manoel Serafim, Rildo Hora entre outros. 

Sua capacidade com um instrumento tão difícil de manusear e tocar como o fole pé de bode foi o mote para a sua alcunha de "Artesão dos 8 baixos", criada por Sivuca, que certa vez declarou que Zé Calixto era "um cavalheiro rústico, um artesão no fole de oito baixos, já que ele mesmo afina sua sanfona". Além de exímio sanfoneiro, Calixto não se limitava a afinar seu instrumento, mas também a sanfona e outros músicos. E mais: tamanho o reconhecimento de seu talento com o fole que também ficou famoso como "Rei dos 8 baixos".

Com Luiz Gonzaga não ocorreu nenhuma gravação em estúdio ou parceria em composições, mas os Reis dos 8 baixos e do Baião tocaram muitas vezes juntos em apresentações e programas de rádio e TV pelo Brasil a fora. 

Mesmo morando no Rio de Janeiro há 60 anos, Zé Calixto sempre fez questão de estar na sua Paraíba, mais precisamente na sua terra natal Campina Grande, para prestigiar e participar do famoso São João da cidade anualmente. 

Seu irmão mais novo, Luizinho Calixto, também é outro ás da sanfona de 8 baixos e ganhou seu primeiro instrumento justamente de Zé quando tinha apenas 8 anos de idade, seguindo os passos da família com bastante sucesso até hoje.

Uma de suas últimas gravações ocorreu em 2017, numa participação especial no disco “Sergival - 30 anos” ao lado Rildo Hora, Leo Gandelman e Silvério Pontes. Em 2018, com produção de seu filho Carlinhos Calixto, foi iniciada a produção de um DVD sobre sua obra.

Nos últimos anos sua saúde começou a ficar debilitada em virtude do Mal de Alzheimer que lhe acometia. E, como já citado, justamente no dia 13 de dezembro, quis o destino que outro rei fosse se juntar à realeza celestial já formada por Luiz Gonzaga, Januário, Sivuca, Dominguinhos. Camarão, Arlindo dos 8 baixos, Mário Zan, entre tantos outros. E mais caprichoso ainda o destino foi o Artesão e Rei dos 8 baixos nos deixar em plena comemoração dos 108 anos de nascimento do Rei do Baião.

Uma perda irreparável para a cultura nordestina, mas a presença do Rei Zé Calixto estará para sempre eternizada na sua obra de valor imensurável para as futuras gerações.




Bodocongó - Zé Calixto (1960)


Instrumental


domingo, 13 de dezembro de 2020

OS 108 ANOS DO REI DO BAIÃO

 

Arte: Anunciado Saraiva


É que hoje é 13 de dezembro e a treze de dezembro nasceu nosso rei. Um dia muito especial para os fãs e seguidores do Rei do Baião. Nesta data, há 108 anos em Exu/PE, nascia o artista que mudaria para sempre a história da música brasileira.

E foi naqueles tempos difíceis em diversos aspectos, na Fazenda Caiçara, que nasceu em 1912 Luiz Gonzaga do Nascimento. Como já é bem conhecido, o nome Luiz foi proveniente de uma sugestão do vigário do local, já que era dia de Santa Luzia, comemorado naquela data; Gonzaga por conta do sobrenome de São Luiz; por fim Nascimento, que representava o nascimento de Jesus Cristo em dezembro. A partir daí começava a trajetória de um dos maiores nomes da história da cultura brasileira. Seu sucesso, segundo relatos de parentes, foi previsto por ciganas de passagem pelo povoado, que disseram à Santana “que ele seria do mundo, andaria tanto que criaria feridas nos pés”. 

O resto da história já se sabe muito bem...


Arte: Reprodução


Várias homenagens são feitas a Luiz Gonzaga país a fora neste período, principalmente em sua terra natal, onde ocorre neste fim de semana o "Viva Gonzagão 2018" conforme citado no post anterior. Homenagem essa que o próprio Gonzagão prestou a esse dia compondo "Treze de dezembro" ao lado de Zé Dantas em 1953. A música, um choro, originalmente é só instrumental. Entretanto, outro grande artista tratou de dar roupagem a esse clássico - Gilberto Gil em 1986 - e a letra, em que um trecho dela é o título deste post, foi mais uma bela reverência em vida ao genial cantador do sertão. No fim desta postagem você pode conferir essa bela música na voz de Elba Ramalho, acompanhada na sanfona pelo mestre Dominguinhos e do conjunto Época de Ouro (Dino 7 cordas, César, Toni, Ronaldo, Jorge Filho e Jorginho do Pandeiro). No fim da postagem você poderá conferir esta bela homenagem.

Vale lembrar que hoje é, por lei nº 11.176 e sancionada em 06/09/2005 pelo então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva - pernambucano como o sanfoneiro -, o Dia Nacional do Forró justamente em alusão ao nascimento do precursor deste ritmo tão brasileiro e nordestino.


Arte: Norteandovoce.com.br


O Rei do Baião deixou seu legado cultural e influenciou diretamente a música popular brasileira reinventando ritmos, criando outros, dando uma nova cor ao cancioneiro regional. O ritmo envolvente do estilo eternizado pelo sanfoneiro, com a simples formação sanfona, zabumba e triângulo, convida todos a dançar, mesmo fora do período do carnaval. 

O Velho Lua interferiu decisivamente na trajetória musical do país ao introduzir no cenário nacional os ritmos do Nordeste – toadas, xotes, chamegos, baiões, xaxados, marchinhas, maracatus, emboladas, etc. Com sua musicalidade moldou a identidade nordestina no imaginário do Brasil, imprimindo ao acordeon das valsas e tangos, a partir da década de 1940, um novo estilo sonoro. E esta identidade nordestina acabou por influenciar – e atrair – várias gerações ao longo do tempo.

E Viva o Rei!




Treze de dezembro - Luiz Gonzaga/Zé Dantas (1953) - Letra: Gilberto Gil (1986)


"Bem que esta noite eu vi gente chegando
Eu vi sapo saltitando
E ao longe ouvi o ronco alegre do trovão

Alguma coisa forte pra valer.
Estava para acontecer na região
Quando o galo cantou 

O dia raiou eu imaginei
É que hoje é treze de dezembro 
E a treze de dezembro nasceu nosso Rei.

O nosso Rei do Baião
A maior voz do sertão
Filho do sonho de Dom Sebastião
Como fruto do matrimônio
Do cometa Januário
Com a estrela Santana
Ao nascer da era de Aquário
No cenário rico das terras de Exu
O mensageiro nu dos orixás.

É desse treze de dezembro
Que eu me lembrarei 
E sei que não me esquecerei jamais."