segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

O FORRÓ FICA SEM SEU ARTESÃO E REI DOS OITO BAIXOS

 

Foto: Reprodução/Internet


O Dia Nacional do Forró é normalmente uma data para ser comemorada pelos amantes da boa música nordestina, sobretudo porque neste dia nasceu o seu maior expoente - o Rei do Baião Luiz Gonzaga.

Entretanto o dia 13 de dezembro também tem seu momento triste. E quis o destino que justamente na data em que saudamos o bom e velho forró, perdêssemos um de seus precursores e grandes nomes da história do gênero. Faleceu ontem, no Rio de Janeiro, Zé Calixto, aos 87 anos de uma vida inteiramente dedicada à arte deixada por Gonzagão e fielmente seguida por ele.

José Calixto da Silva nasceu em Campina Grande/PB em 16/07/1933. Filho de um sanfoneiro de 8 baixos, não demorou para absorver a arte do pai. Aos 8 anos observava seu genitor tocar e já arriscava algumas notas. Aos 12, já tocava em festas na região com a maestria que lhe consagraria pelas próximas sete décadas. Foi nesta época de início de carreira na Paraíba que Zé Calixto conheceu outros dois ícones da música nordestina: Jackson do Pandeiro e Genival Lacerda.

Em 1959 partiu rumo ao Rio de Janeiro para uma série de gravações e por lá na capital carioca fixou residência até o fim de sua vida. Pegando carona no furor que Luiz Gonzaga causara na época com seu baião, Zé Calixto não tardou a fazer sucesso também. No ano seguinte já estava gravando vários forrós, dentre eles "Forró em Serra Branca", "Forró em Campina Grande" e "Bodocongó".  Seu primeiro disco gravado intitulou-se "Zé Calixto e sua sanfona de oito baixos" neste mesmo ano. Com seu pé de bode, Calixto agradou e muito a crítica, tanto que a gravadora Philips lhe contratou em 1961 para lançar vários discos. E a partir daí especializou-se no forró junino.


Foto: Reprodução/LP "Forrozão 88"


Durante a década de 60 percorreu o Brasil em várias apresentações ao lado dos conterrâneos, colegas de profissão e amigos Genival Lacerda e Jackson do Pandeiro.

Zé Calixto passou por outras gravadora além da Philips ao longo de sua brilhante carreira, como a Tapecá, CBS, EMI-Odeon e Continental, tendo deixando um tesouro artístico composto por 29 discos entre LPs e CDs.

Também ao longo de seus 60 anos de carreira fez diversas parcerias musicais, como as já ditas com Jackson do Pandeiro e Genival Lacerda, além de outro gênio da sanfona como Sivuca, Camarão, Manoel Serafim, Rildo Hora entre outros. 

Sua capacidade com um instrumento tão difícil de manusear e tocar como o fole pé de bode foi o mote para a sua alcunha de "Artesão dos 8 baixos", criada por Sivuca, que certa vez declarou que Zé Calixto era "um cavalheiro rústico, um artesão no fole de oito baixos, já que ele mesmo afina sua sanfona". Além de exímio sanfoneiro, Calixto não se limitava a afinar seu instrumento, mas também a sanfona e outros músicos. E mais: tamanho o reconhecimento de seu talento com o fole que também ficou famoso como "Rei dos 8 baixos".

Com Luiz Gonzaga não ocorreu nenhuma gravação em estúdio ou parceria em composições, mas os Reis dos 8 baixos e do Baião tocaram muitas vezes juntos em apresentações e programas de rádio e TV pelo Brasil a fora. 

Mesmo morando no Rio de Janeiro há 60 anos, Zé Calixto sempre fez questão de estar na sua Paraíba, mais precisamente na sua terra natal Campina Grande, para prestigiar e participar do famoso São João da cidade anualmente. 

Seu irmão mais novo, Luizinho Calixto, também é outro ás da sanfona de 8 baixos e ganhou seu primeiro instrumento justamente de Zé quando tinha apenas 8 anos de idade, seguindo os passos da família com bastante sucesso até hoje.

Uma de suas últimas gravações ocorreu em 2017, numa participação especial no disco “Sergival - 30 anos” ao lado Rildo Hora, Leo Gandelman e Silvério Pontes. Em 2018, com produção de seu filho Carlinhos Calixto, foi iniciada a produção de um DVD sobre sua obra.

Nos últimos anos sua saúde começou a ficar debilitada em virtude do Mal de Alzheimer que lhe acometia. E, como já citado, justamente no dia 13 de dezembro, quis o destino que outro rei fosse se juntar à realeza celestial já formada por Luiz Gonzaga, Januário, Sivuca, Dominguinhos. Camarão, Arlindo dos 8 baixos, Mário Zan, entre tantos outros. E mais caprichoso ainda o destino foi o Artesão e Rei dos 8 baixos nos deixar em plena comemoração dos 108 anos de nascimento do Rei do Baião.

Uma perda irreparável para a cultura nordestina, mas a presença do Rei Zé Calixto estará para sempre eternizada na sua obra de valor imensurável para as futuras gerações.




Bodocongó - Zé Calixto (1960)


Instrumental


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