Imagem: Reprodução/lgdiamantina.wordpress.com/
Você, amigo leitor, pode ter se surpreendido com essa história de Beatles e Luiz Gonzaga, até porque este encontro jamais ocorreu e sequer esteve perto disso. Entretanto, a história de ambos tem algo a ver em um determinado período da história musical. Vamos conhecê-la.
O Rei do Baião vivia um período de ostracismo perante a grande mídia nacional nos anos 60, mas seu talento e sua popularidade ainda eram um furor pelo "interior" do país. Além disso, artistas reconheciam a imensa contribuição do sanfoneiro para a cultura musical do Brasil.
Com o advento de novos ritmos introduzidos nas paradas de sucesso brasileiras, como a Bossa nova, a Tropicália e a Jovem guarda, o Baião foi perdendo um pouco de sua força nas grandes capitais do Sul e Sudeste e isso fez com que Gonzaga recorresse mais ao interior dos estados, sobretudo no Norte e Nordeste, onde ainda era um verdadeiro "Rei" para este público.
Porém, no final dos anos 60, mais precisamente em 1968, a maré começou a virar outra vez na carreira de Luiz Gonzaga - para melhor. E é aí que entra a histórica banda inglesa na jogada. Carlos Imperial (foto baiaxo), produtor e apresentador do programa "Os brotos comandam" na extinta TV Continental, do alto de seu humor quis demonstrar que o estilo musical dos então garotos de Liverpool, quarteto formado por John Lennon, Paul McCartney, Ringo Star e George Harrison, tinha raízes no Baião. E mais: ainda propagou o boato de que o grupo britânico tinha acabado de gravar Asa Branca em seu novo disco "White Album".
Foto: Folhapress
Obviamente que o público jovem das grandes cidades, que naquela época pouco ouvia o Velho Lua, ficou em polvorosa com a suposta novidade e passou a procurar mais a obra de Gonzagão. A grande mídia, que havia quase lhe esquecido há alguns anos, também ficou estupefata com a notícia e voltou a dar a devida atenção ao sanfoneiro de Exu.
Havia realmente uma referência a um pássaro em uma das músicas do álbum, "Blackbird", mas que nada tinha a ver com a Asa Branca. Porém, até que o mal entendido fosse desfeito, o nome de Luiz Gonzaga voltou à boca do povo. O artista foi chamado para dar diversas entrevistas em vários meios de comunicação – impressos, de rádio e de TV – e recebia cachês para falar de algo que Imperial simplesmente deturpara da realidade.
Uma possível explicação para essa "fake news" seria mesmo uma música que havia sido lançada há pouco tempo na época, “The Inner Light”, composta de George Harrison. A música até tem uma melodia semelhante a de “Asa Branca”, mas nada que faça remeter a uma possível inspiração dos Beatles na toada nordestina.
Luiz Gonzaga foi ainda é gravado e interpretado por vários artistas mundo a fora desde os anos 50, quando em 1951 a portuguesa Ester de Abreu gravou "Ai, ai, Portugal" de Gonzaga e Humberto Teixeira. A partir de então há gravações em inglês, francês, no Japão (você pode conferir aqui no blog), Coréia do Sul, Grécia (confira aqui também), Senegal, Holanda (com post no blog), China, entre muitos outros países.
E para finalizar essa relação Beatles X Luiz Gonzaga que nunca existiu na prática, nada melhor que uma saudação toda especial de um dos garotos de Liverpool - que hoje é um senhor que ainda canta e toca muito pelo planeta inteiro - durante um show realizado em Recife, Pernambuco, o estado natal do Rei do Baião.
Abaixo, uma das gravações internacionais da obra de Luiz Gonzaga - realizada no Senegal, África, pelo cantor Ameth Male: a clássica "Asa Branca", de autoria de Gonzagão e Humberto Teixeira do ano de 1947.
Link do vídeo 1: https://www.youtube.com/watch?v=H4QsnWpgecg
Link do vídeo 2: https://www.youtube.com/watch?v=XxIeNT1lA-s
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