Foto: Autor desconhecido
No último dia 05 de janeiro, há 105 anos na cidade de Iguatu, localizada no centro-sul do estado do Ceará e distante cerca de 420km da capital Fortaleza, vinha ao mundo Humberto Cavalcanti de Albuquerque Teixeira, ou simplesmente Humberto Teixeira. Músico, advogado, político e compositor brasileiro, Teixeira marcou para sempre a história musical do país a partir dos anos 40 - mais precisamente 1945 - quando encontrou o Rei do Baião Luiz Gonzaga pela primeira vez no Rio de Janeiro em seu escritório de advocacia, na avenida Calógeras, numa tarde de outono.
A parceria foi idealizada após o primeiro grande parceiro de Gonzaga, Miguel Lima, não ter muito interesse em compor músicas que tivessem como mote o Nordeste, como era desejo o sanfoneiro. Desta feita, Miguel Lima indicou o compositor Lauro Maia para que o sanfoneiro o procurasse e falasse sobre seu desejo de cantar as coisas do seu sertão. Só que Lauro Maia também não se interessou muito pela ideia e recomendou então seu cunhado Humberto Teixeira. Encontro consumado e a história foi feita e está aí para contar o retumbante sucesso de ambos.
Teixeira já tinha na família a veia da música. Seu tio era maestro e lhe ensinou os primeiros passos nos acordes. Seu pai, João Teixeira, presenteou-lhe com uma flauta que hoje está exposta no Museu da Imagem e do Som de Iguatu. Mas não foi com o instrumento que o futuro parceiro de Gonzagão ganhou notoriedade, mas com as letras que compunha.
Foi mandado pelo avô, Francisco Teixeira, líder político da região na época, para estudar na então capital federal Rio de Janeiro, de onde viria a se formar em direito - daí a alcunha "Doutor do Baião" alguns anos mais tarde, quando já estava consolidado ao lado de Luiz Gonzaga no cenário musical brasileiro.
Foto: Autor desconhecido
A parceria Gonzaga-Teixeira era tão afinada, que já na primeira reunião de ambos saiu o rascunho do primeiro sucesso da dupla: "No meu pé de serra", de 1945. A partir de então várias obras primas foram compostas pela parceria, mas os maiores destaques ficam, sem dúvida, para "Asa Branca" - o maior clássico musical da dupla, e um dos maiores da história do país - e "Baião", marco introdutório do ritmo no Brasil que veio definitivamente impulsionar a carreira de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga. A primeira composta em 1947 e a segunda, em 1946.
Mas nem só da parceria com Gonzaga viveu a composição de Teixeira. O advogado cearense também criou letras para o acervo de Dalva de Oliveira ("Kalu"), Carmélia Alves ("Adeus, minha fulô"), entre outros. E também nem só o baião saiu de suas geniais ideias, mas sambas e marchinhas também fizeram parte de sua rica obra musical.
Em 1954 Humberto Teixeira resolveu entrar para o mundo da política e elegeu-se deputado federal pelo Ceará. Seu principal feito no Congresso a promulgação da lei 3.447 de 23 de outubro de 1958, conhecida como "Lei Humberto Teixeira", que tratava da formação de caravanas artísticas de divulgação da música popular brasileira no exterior.
Tão grande a importância de Humberto Teixeira para a música brasileira que fundou em 1956, junto com o também compositor João de Barro, a Academia Brasileira de Música Popular, de onde foi presidente, além de representar o país na Europa em um congresso internacional de autores e compositores como delegado especial.
Como citado, foi idealizador da "Caravana Oficial da Música Popular Brasileira" a partir de 1957, que levava artistas brasileiros para o exterior a fim de divulgar a música nacional. Sivuca, Valdir Azevedo, Pery Ribeiro, Carmélia Alves e Altamiro Carrilho foram alguns dos renomados músicos que participaram destas caravanas.
Humberto Teixeira faz parte da rica cultura artística brasileira. Ao lado de Zé Dantas e João Silva formou a trinca que mudou o cenário musical do país, compondo inúmeros sucessos ao lado do Rei do Baião. Teixeira também emprestou sua genialidade às melodias de Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Dalva de Oliveira, Caetano Veloso, Gal Costa, Elba Ramalho e outros.
Abaixo, Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga falam da história da parceria ambos na música.
O "Doutor do Baião" faleceu em 3 de outubro de 1979, aos 64 anos, de problemas cardíacos no Rio de Janeiro deixando um legado imensurável para as gerações posteriores. Desde "Meu Pedacinho", sua primeira composição em 1934, até "Dança do Capilé", última letra de sua carreira com Luiz Gonzaga (1979), foram inúmeras composições que ficaram marcadas na história da música popular brasileira.
Teixeira foi casado com a atriz Margot Bittencourt com quem teve uma filha, a atriz Denise Dumont, que produziu em 2009 o documentário "O homem que engarrafava nuvens", que conta a história de vida do pai.
Um viva ao Doutor do Baião por seus 105 anos de uma rica história na música popular brasileira!
Bicho, eu vou voltar! - Humberto Teixeira (1971)
"Lá, lá, lá, lá, lá, lá...
Lá, lá, lá, lá, lá, lá...
Bicho, com todo respeito
Dá licença, eu vou voltar
Ô desafio pai d'égua
Pra cabra macho enfrentar
Falei com Carmélia e Sivuca
Pro Zé Dantas o que eu fiz foi rezar
Mas o caso é que eu, modestamente
Bicho eu vou voltar
Bicho, falar não é preciso
Rei Luiz vai me ajudar
Hervé, Guio, Marino, minha gente
Tou aí pra desencabular
Caetano, muito obrigado
Por me fazer lembrar
Não a mim, mas aos versos que eu fiz
Quando o verde dos teus olhos
Pro meu Brasil cantar
Lá, lá, lá, lá, lá, lá...
Lá, lá, lá, lá, lá, lá...
Tá doido, é duro seu mano
A gente tem que respeitar
Tem Gil, Capinam, tem Chico
Tem Tom, pra no tom não errar
Mas se pego a viola e ponteio
Meu acordes mais ternos
É duro, eu me esqueço do inverno
Kalu...
Bicho, eu vou voltar!"
Link do vídeo 1: http://youtu.be/vnMeho_DZp0
Link do vídeo 2: https://www.youtube.com/watch?v=pn7kfmqpA4s
Nenhum comentário:
Postar um comentário