segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

A ORIGEM DO FORRÓ

Foto: Reprodução


Que todo mundo sabe que Luiz Gonzaga foi o grande precursor do forró no Brasil, não há como negar. Mas alguns ainda acham que Gonzagão quem inventou o ritmo propriamente dito, e isso não é inteiramente uma verdade, digamos assim.

Podemos afirmar com toda a certeza que o Rei do Baião foi o maior representante e a grande referência nacional quando o assunto é "forró". Entretanto, este ritmo tradicionalmente nordestino teve raízes fora do Brasil e até já era citado em composições antes mesmo do surgimento do genial Luiz Gonzaga.

O forró na verdade não é um gênero único, serve para aglutinar ritmos como xote, xaxado, baião e arrasta-pé. O termo "forró", segundo o pesquisador pernambucano Evanildo Bechara, é uma corruptela de "Forrobodó", que por sua vez varia de "Forbodó", antigo vocábulo galego-português que significava "desentoação", "bagunça", "farra".

Falar da história do “For-all”, que os norte-americanos trouxeram para Parnamirim/RN na época da II Guerra Mundial em referência às festas que faziam para todos (daí o "for all") e que não é aceita pelos historiadores. Até porque o termo "Forrobodó" já era usado na nossa cultura (peça teatral “Forrobodó” de 1912 – de autoria dos teatrólogos Carlos Bettencourt e Luís Peixoto e a música “Forró na roça” – de 1937 de autoria de Manuel Queirós e Dão Xerém, 5 anos antes da inauguração da base aérea no Rio Grande do Norte e 4 antes da primeira gravação de disco de Gonzaga. Confira a histórica música abaixo.




Forró na roça - Manuel Queiró/Dão Xerém (1937)


Instrumental



Um dos registros mais antigos do vocábulo "Forrobodó" vem de 1833, conforme o historiador potiguar Luís da Câmara Cascudo. O jornal carioca “O Mefistófeles” trouxe em seu número 15 um texto com o título: “o ator Guilherme na noite do seu Forrobodó”. Num outro jornal de 1913, Cascudo listou os instrumentos descritos na nota que faziam referência ao Forrobodó: violão, sanfona e reco-reco; e ainda a origem social de seus participantes: “a ralé”. É, ainda, em 1913 que o termo forró é dicionarizado pela primeira vez, conforme o Houaiss.

O forró, como sabemos, é uma dança que acontece em pares com muito "remelexo", e até certo ponto sensual, e evoluiu para outros estilos que possuem raízes em variadas danças, adaptadas à estética que a música "forrozeira" apresenta. Seus principais instrumentos musicais que lhe acompanham são a sanfona, o triângulo, a zabumba, o pandeiro, o ganzá, o gonguê e o melê. Em algumas composições há a introdução de outros instrumentos para incrementar o ritmo.

Apesar de toda essa história do forró, Luiz Gonzaga é quem realmente familiarizou o ritmo com o povo brasileiro e lhe deu novas conotações, roupagens. Nacionalizou-o, podemos afirmar assim, quando antes era bem restrito à "ralé" e sofria preconceito da sociedade da época.

Sua primeira citação do forró ocorreu com "Forró de Mané Vito", de 1949, de sua autoria com Zé Dantas. Vale lembrar também que o trio de forró, com a clássica formação sanfona, zabumba e triângulo, foi idealizado pelo Velho Lua no começo de sua carreira e até hoje é o símbolo maior da cultura de raiz do ritmo.

Na discografia de Luiz Gonzaga foram 25 gravações com o mote do "forró" no título e outras várias apenas citando o ritmo eternizado na voz e sanfona do Rei do Baião.




Forró de Mané Vito - Luiz Gonzaga/Zé Dantas (1949)


"Seu delegado, digo a Vossa Senhoria
Eu sou fio de uma famia que não gosta de fuá
Mas trasantontem, no forró de Mané Vito
Tive que fazer bonito, a razão vou lhe explicar

Bitola no Ganzá
Preá no reco-reco
Na sanfona de Zé Marreco
Se danaram pra tocar
Praqui, prali, pra lá
Dançava com Rosinha
Quando o Zeca de Sianinha
Me proibiu de dançar

Seu delegado, sem encrenca eu não brigo
Se ninguém bulir comigo num sou homem pra brigar
Mas nessa festa, Seu dotô perdi a carma
Tive que pegá nas arma, pois num gosto de apanhar

Pra Zeca se assombrar, andei parar o fole
Mas o cabra num é mole, quis partir pra me pegar
Puxei do meu punhá, soprei no candeeiro
Botei tudo pro terreiro, fiz o samba se acabar."




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