Foto: Autor desconhecido
Hoje em dia vemos a explosão de alguns cantores e algumas bandas que alegam cantar e tocar forró. E o pior: vendem para o Brasil um ritmo que nem de perto se parece com o que foi criado por Luiz Gonzaga e perpetuado por seus seguidores.
Tal erro ganha mais força ainda com declarações estapafúrdias, cheias de desconhecimento histórico, falta de reconhecimento e com o intuito apenas comercial como as de Dorgival Dantas, postadas nas redes sociais em referência ao cantor Xandy da banda Aviões "do forró" (que de forró não tem rigorosamente nada).
Vocês que visitam o blog, de norte a sul do Brasil e até do exterior, não se iludam! Aqui vai um alerta: FORRÓ SÓ EXISTE UM! O tocado e cantando como na foto acima tirada no Cine Diogo, em Fortaleza, no ano de 1955. Esse negócio de forró "estilizado", "pé de serra", "universitário" é tudo balela! Forró é um apenas, o que foi criado e difundido pelo Rei do Baião e que é tocado até hoje por quem realmente mantem as tradições do ritmo genuinamente nordestino.
Essas bandas e esses cantores se aproveitam comercialmente de um filão deixado por aqueles artistas que realmente fazem o forró e destilam batidas, melodias e letras que nada têm a ver com a beleza poética e o som da sanfona, zabumba, triângulo, viola, ganzá, pandeiro e outros instrumentos que compõem o gênero musical principal do Nordeste. E lamentavelmente, com o apelo da mídia para esse novo estilo musical que NÃO É FORRÓ, o público que não conhece a fundo o histórico do ritmo acaba se convencendo que isso representa a obra maravilhosa idealizada pelo Velho Lua.
Foto: politicamaiscedo.com.br
O forró é preterido na imensa maioria das rádios e TVs brasileiras em virtude do pouco apelo comercial ao qual a grande mídia dispõe para o gênero. E, no fim, acaba ludibriando o público com apresentações de músicos que trazem letras chulas, sons que não fazem parte do estilo e coreografias que mais estão para lambada e aeróbica que para o "rela-bucho" tradicional dos forrozeiros.
Em 1968 Gonzaga já parecia prever que alguns grupos de cantores e empresários iriam se aproveitar de sua criação e deturpá-la por completo, quando gravou "Baião Polinário" de Humberto Teixeira. A letra fala de uma música "chibunga e sem cor" que não era o seu baião, que estava sendo tocada e cantada por pessoas que apenas desrespeitavam sua obra ao denominar essas novas gravações como baião. Como bem canta o sanfoneiro, "foge ao seu inventário". Nada mais atual para essas músicas de hoje.
Obs.: Esta postagem é uma opinião sobre uma declaração infeliz de um sanfoneiro e sobre ritmo musical, não um ataque ao gosto alheio. Cada um tem o direito de gostar do que quiser - respeita-se - e não é a intenção deste blog fazer críticas dessa natureza.
Baião Polinário - Humberto Teixeira (1968)
"Baião cantado em ternário
e até quartenário
Ô, Ô Ô...
Colagem de som e verso
Modismo ao reverso
Sim, Senhor!
Pode agradar, não discuto
Se tem balanço eu escuto
Mas foge ao meu inventário.
Este baião Polinário.
Pilantra,Chibungo
E sem cor.
Não, Não, Não!
Mais respeito com o sertão!
Essa coisa tão pachola,
Sem cabocla e sem viola,
Me perdoe não é baião.
Não, Não, Não!
Mais respeito, meu irmão!
Fala a minha autoridade
Num acorde de saudade
De quem sabe o que é o Baião."
Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=OWDTO_ky8cM
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