sábado, 12 de dezembro de 2015

UM MENINO BATIZADO GONZAGA

Imagem: Reprodução/Youtube - São João do Nordeste


Há 103 anos nascia o ícone maior da música brasileira, no sopé da Serra do Araripe em Exu/PE. Na madrugada do dia 13 de dezembro vinha ao mundo um futuro rei. Porém, todos têm um nome obviamente, ainda mais alguém que viria futuramente se tornar majestade. E se não fosse o vigário da igreja de São João Batista, no povoado do Araripe, talvez conhecêssemos nosso mestre sanfoneiro por outro nome.

No causo a seguir - outro trecho da autobiografia "O sanfoneiro do Riacho da Brígida", de autoria de Sinval Sá - vamos conhecer através da narrativa do Rei do Baião como o menino recém-nascido chamou-se Luiz Gonzaga do Nascimento.


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UM MENINO BATIZADO GONZAGA


- Nome do menino?
- Luiz.

Os olhos do vigário permaneceram parados, esperando. Vendo que não adiantava nada, inquiriu, paciente:

- Luiz de quê?

Fugênia vacila:

- Bem, o pai dele se chama Januário... Luiz Januário, tá bom?

O padre sorriu, bondoso. Lembrava-se do casamento, três anos atrás, Santana toda cheia de carnes e de vida, Januário meio encabulado. E agora vinha com o segundo filho pra batizar. Virou-se para a avó do menino, enquanto os padrinhos, um pouco afastados, esperavam o fim daquele diálogo, um tanto formalizados, como se cumprissem uma obrigação difícil. O padre irritava-se com aquela atitude. Não sabia como aquela gente escolhia brancos para padrinhos dos filhos, eles que os olhavam do alto. Por isso achou seu dever contrariar a sugestão da avó do menino. Não seria Luiz Januário. Lembrou-se de São Luiz Gonzaga e aventou:

- Tá bom não. Já que é Luiz, vamos completar o nome do santo padroeiro, São Luiz Gonzaga, da nossa devoção. Em que dia nasceu?
- No dia da Senhora Santa Luzia...
- Ahn! No mês do nascimento...

Fez uma pausa, dobrou a sobrepeliz e com um chiado de contentamento propôs:

- Que tal Luiz Gonzaga do Nascimento? Estamos no mês do nascimento e é um nome bonito para um menino tão forte.

Repetiu, ele próprio querendo ouvir o nome, para convencer-se melhor:

- Luiz Gonzaga do Nascimento, pra ter sorte, tá bom?
- É, Padrinho Vigário quer...

Já no altar, os padrinhos impacientavam-se. E o padre parecia experimentar-lhes a paciência.

Batizei-me, assim, com aquele nome que não tinha nada de meus pais. Luiz por causa da "zelação" que cortara o céu e da santa; Gonzaga, por causa da devoção do senhor vigário; e Nascimento porque naquele mês nascera Cristo. E não foi mal o nome. Levo esse Gonzaga, de que sou o único portador em minha família, como uma benção de Deus, como uma sugestão de sorte prevista naquela tarde na igreja do Exu. E não me julgo pouco favorecido pelo destino. Sou mesmo um cabra de sorte. Tive lutas, dificuldades na vida. Enfrentei incompreensões, invejas, sofrimentos. Mas venci, graças a Deus, pois me sinto totalmente realizado.

E são essas lutas, essas dificuldades, esses sofrimentos que pontilharam minha vida...


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