Foto: Reprodução/Mercado Livre
Depois de umas pequenas férias eis que retorno para falar da vida e da obra do nosso Rei do Baião. E nas andanças, conversas e nas audições musicais um colega de trabalho me perguntou há algum tempo como surgiu minha admiração por Luiz Gonzaga. Respondi sua curiosidade e aproveito para compartilhar com vocês esse fato nesta postagem.
Não lembro bem exatamente quando, com certeza eu não tinha ainda 7 anos, mas recordo-me da minha primeira vez encontrando a obra de Gonzaga com riqueza de detalhes. Meu saudoso avô materno Arestides era um grande apreciador da música popular brasileira. Lá em Maceió era dono de uma vasta discoteca com o mais variados artistas - dentre eles Gonzagão, que ele também gostava bastante.
Vovô tinha como rotina ao chegar do trabalho ir ao seu quarto descansar e ouvir música ou assistir TV antes do jantar estar à mesa. E numa dessas ocasiões, eu ainda muito garoto estava em sua casa passando uma das muitas tardes/noites ao lado de meus avós, tias e primos. Ouvi lá do seu quarto uma música que no início achei muito engraçada, que falava de calango, cabrito e cavalo e que misturava em sua letra cenas típicas de um programa de pastelão e do cotidiano e linguajar do matuto/sertanejo/caipira brasileiro.
A música era "Calango da lacraia", de 1946, autoria de Luiz Gonzaga e J. Portela. Achei aquela gravação muito divertida, e gostei bastante do ritmo frenético tocado e do vozerão característico do Rei. Foi a partir daí a porta de entrada para minha profunda admiração pela vida e obra do maior cantador que esse país já produziu. E aqui vai meu agradecimento ao meu avô, que se foi em 2003, por indiretamente me proporcionar conhecer e admirar um legado tão rico como o do sanfoneiro.
Este ano a composição completa longínquos 70 anos e o blog reproduz para você esse calango na voz e na sanfona do Velho Lua.
Calango da Lacraia - Luiz Gonzaga/J. Portela (1946)
"Eu vou te contar um caso
Você ri que se escangaia
A mulher do Zé Maria
Foi dançar, caiu a saia.
Calangotango
Do calango da lacraia
Meu cabrito tá na corda
Meu cavalo tá na baia.
Minha fia não se casa
Com homi que não trabaia
Trabaiadô quando é bão
Segunda-feira não faia.
No lugar que eu jogo bola
Não quero jogo de maia
Também quero ter direito
Você mesmo me atrapaia.
Desaforo de mineiro
É chamar nortista de traia
O nortista puxa faca
Mineiro puxa navaia.
Se não fosse a carnaúba
Não tinha chapéu de paia
O que eu não atolero
É desaforo de canaia.
Calangotango
Do calango da lacraia
Meu cabrito tá na corda
Meu cavalo tá na baia."
Link do vídeo: https://youtu.be/_bmOdYBGrfo

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