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Estamos em junho, mês das tradicionais festas juninas, que infelizmente não estão sendo realizadas neste ano em virtude da pandemia do Covid-19. Estamos sem poder apreciar toda a tradição dos festejos de Santo Antônio, São João e São Pedro: as danças, as músicas, comidas típicas, os fogos de artifício, as brincadeiras, as fogueiras, as quadrilhas, entre outras.
E você, leitor, certamente já foi a um "arraiá" e dançou uma quadrilha. Ou se não dançou ao menos se divertiu observando a cena. As quadrilhas juninas nas quais me refiro são as tradicionais, pois na mesma onda da "pseudo-modernização" da música nordestina com essas bandas atuais estão as quadrilhas "estilizadas", que mais parecem desfiles de escola de samba tamanha a ornamentação e paramentação do local e dos participantes.
Mas respeitando todos os gostos, vamos falar hoje da tradição junina da quadrilha, que é uma dança típica dos festejos dos três santos padroeiros que reúne pares com trajes característicos caipiras, tais como camisas e vestidos quadriculados, chapéus de palha, calças remendadas, mulheres vestidas de noiva, homens trajados de padre, delegado e outras figuras do dia-a-dia do interior do país.
Tal tradição vem da França, no século XVIII, com influências portuguesa e holandesa. Era um ritual praticado pela elite europeia e veio para o Brasil durante o período da Regência, na década de 1830, e ficou bastante popularizada no meio aristocrático com o nome "Quadrilha de Arraiais". Contudo, ao longo dos anos a quadrilha foi se enraizando na cultura brasileira, mais intensamente no Nordeste.
Imagem: MEC - Portal do Professor
Até hoje ainda há resquícios da influência francesa na quadrilha junina. Talvez você nunca tenha percebido, amigo leitor. Mas é só prestar atenção no puxador quando ele fala as expressões "Alavantur" (En avant tout - para frente), "Anarriê" (En arrière - para trás), entre outras, que são palavras da língua francófona.
Luiz Gonzaga sempre foi um entusiasta das festa juninas, tradição que ele foi o principal artífice de sua popularização por todo o Brasil. Na sua obra são várias as músicas que tratam da época, inclusive algumas especialmente feitas para as quadrilhas como a do vídeo abaixo - "Quadrilha chorona", que contou ainda com a participação do saudoso Chico Anysio na voz do famoso personagem Professor Raimundo. Na gravação o humorista, inclusive, cita e explica as expressões de origem francesas que fazem parte da quadrilha que falamos nesta postagem.
Ah, e sempre lembrando: #FiqueEmCasa para que possamos em 2021 aproveitar todas as tradições das festas juninas.
Quadrilha chorona - Luiz Gonzaga/Maranguape - part. especial Chico Anysio (1986)
"(Luiz Gonzaga)
- Atenção pessoal!
- Vamos dançar a quadrilha?
- O quadrilheiro é o Professor Raimundo.
- Vindo diretamente de Maranguape.
- O Homem é bom, o homem é espetacular!
- Muito respeito, muita ordem!
- Preste atenção.
- Professor Raimundo? Assuma o comando!
(Professor Raimundo - Chico Anysio)
- Me dê licença!
- Atenção, pessoal!
-Vamos dar início ao começo, do princípio.
- Da prossiguinação, da largada, da quadrilha!
(Luiz Gonzaga)
- Vixe!
.
(Professor Raimundo)
- Metade do lado de cá, outra metade da banda do lado de lá.
- Atenção!
- Damas e cavalheiros procurem seus pares.
- Compadre Lua?
(Luiz Gonzaga)
- Eu!
(Professor Raimundo)
- Cadê o "piano de joelho"?
- Estique esse fole, macho!
- Marca-passo. Já!
- Alavantur!
- Quer dizer pra frente.
- Anarriê!
- Quer dizer todo mundo pra trás
- Marcha-ré, isso!
- Se afaste, se afaste!
- Se esfregando nas muié não dá!
- Balancê!
- Cada par em seu lugar, isso!
- Atenção!
- Alavantur de damas!
- Só as mulheres no meio do salão.
- Atenção!
- Alavantur de cavalheiros!
- Cuidado! Direita com direita.
- Esquerda com esquerda.
- Atenção!
- Golpear as damas!
- Péra! Pera! Pera!
- De faca não, de faca não!
- Atenção!
- Trevessê!
- Balancê!
- Se balança, pessoal!
- Atenção!
- Tu... Pode ir balançar com as damas.
(Menino)
- Eu também quero entrar.
(Professor Raimundo)
- Moleque não pode ir na roda, de jeito nenhum.
- Já falei, já falei.
- Atenção!
- Cada par em seu lugar.
- Atenção, pessoal!
- Beijo de anjos.
- Agora beijo dos marmanjos!
- Eita mulher bonita da gôta!
- Atenção!
- Rodar pra esquerda! Já!
- Agora pra direita!
- Em seus lugares!
- Balancê!
(Menino)
- Homem, me pisaram nos pés.
(Professor Raimundo)
- Na mão é que não podia ser, Severino!
- Alavantur!
- Anarriê!
- Atenção pra grande roda.
- Grande roda, já!
- Todo mundo de mão dada.
- Isso!
- Não taca tijolo no lampeão, Alfredinho!
- Quem é o engraçadinho que tá com arma de fogo no salão?
- Eu chamo a polícia.
- Balancê!
- Atenção pro trançadinho!
- Já!
- Dama cara a cara com o cavalheiro.
- Você aí, Zé Comprido, tire o chapéu e o sapato pra ficar igual ao outros.
- Sim!
- Atenção!
- Agora todo mundo sorrindo.
- Nem que seja a força.
- Par com par olhando pro fotógrafo.
- Pra tirar retrato, cabrão!
- Balancê!
- Tem que ter um homem parado.
- Vai dizer que lhe roubaram a dentadura?
- Só tem ladrão.
- Caminho da roça!
- Já!
- Seguem os homens na frente.
- As mulheres, atrás.
- Peraí, peraí, peraí
- Tira as mãos do bolso do vizinho, sem vergonha!
- Atenção, pessoal, lá vem a chuva!
- Foi só pra enganar.
- Atenção!
- Segue em frente.
- A ponte tá quebrada, todo mundo pra trás.
- Atenção!
- Faz que vai, mas não vai.
- Balancê!
- Preparar pro granchê.
- Já!
- Acabou o querosene do lampião.
- Que se môla!
- Miguelzinho Pontes, traz um lampião.
- Quadrilha no escuro não presta!
- Granchê!
- Segue sempre granchê!
- Quando chegar pode balancear!
- Atenção!
- Grande roda, já!
- Em formação de estrela.
- Vamos girando igual as estrelas.
- Canelada não vale, porca véia!
- Atenção!
- Meia volta! Mais meia volta.
- Grande roda!
- Já!
- Balancê!
- Atenção pra fazer o túnel.
- É já!
- Atenção, pessoal!
- Quando terminar o túnel...
- ...Grande roda!
- Atenção, pessoal!
- Todo mundo de mão dada.
- Ignácio e Guariba puxam a fila!
- Compadre Lua, dê um descanso ao fole.
(Luiz Gonzaga)
- Obrigado, Professor!
(Professor Raimundo)
- Moças ao bifê!
(Luiz Gonzaga)
- Oba!
(Professor Raimundo)
- Cavalheiro não come!
(Luiz Gonzaga)
- Ohhhhhh!"
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