sábado, 27 de junho de 2020

DA GUERRA AOS FESTEJOS JUNINOS

Foto: Jorge Farias 


Entre as tantas tradições juninas, conforme já citamos algumas aqui no blog, há a do desfile dos bacamarteiros. Ritual seguido há mais de um século e meio nas festas pelo Brasil a fora, principalmente no Nordeste, e que é um bonito espetáculo que une o folguedo, a paramentação dos participantes, a dança e a música.

Vamos começar com um pouco da história do armamento, que foi tão utilizado em vários conflitos bélicos mundo a fora. O bacamarte é uma arma de fogo de cano curto, mas de boca larga e bem reforçada na coronha - com o passar do tempo o cano também foi alongado. Sua origem é francesa e por lá leva o nome de "braquemart". É uma arma bastante pesada se comparada aos dias atuais, chegando a pesar cerca de 15kg. Possui um grosso calibre para que possa espalhar a carga de chumbo que carrega. 

Segundo os pesquisadores do assunto o bacamarte já era utilizado na década de 1850 no território brasileiro principalmente nos navios da Marinha e, depois, largamente utilizado na Guerra do Paraguai, que ocorreu entre 1864 e 1870, em que o país vizinho enfrentou Brasil, Argentina e Uruguai - a chamada Tríplice Aliança.


Foto: Reprodução/Leslie Diniz Leilões



Agora voltando pra tradição junina observa-se que os armamentos foram modificados ao longo dos anos para serem incorporados às festas de junho como uma forma de homenagearem os santos padroeiros. Os bacamarteiros atiram contra o chão uma carga de pólvora seca que solta muita fumaça e faz um barulho bastante similar ao dos fogos de artifício, criando um bonito efeito. 

Afora os tiros dados, os grupos de bacamarteiros desfilam e realizam coreografias sempre animadas por um forró autêntico tocado por alguns membros que tocam sanfona, zabumba e triângulo. Além dos atiradores em cada grupo sempre há os tocadores, como dito, os porta-estandartes e os porta-bandeiras. Tal tradição junina é registrada nas festas já a partir da Guerra do Paraguai, na década de 1870.

E como não poderia ser diferente, Luiz Gonzaga, contumaz admirador da cultura brasileira e notadamente das tradições das festas de Santo Antônio, São João e São Pedro, levou à sua obra toda a arte do bacamarte. Em 1981, juntamente com Janduhy Finizola, o Rei do Baião compôs "Os bacamarteiros" para contar um pouco de mais esta rica história que povoa os festejos juninos, conforme você pode conferir no vídeo abaixo.

E não esqueça: #FiqueEmCasa!




Os bacamarteiros - Luiz Gonzaga/Janduhy Finizola (1981)


"Chegou São João
É tempo do baque
Do baque do bacamarte
Que o bacarmateiro tem.

Vê quantos guerreiros, granadeiros
A riúna e a colubrina
Aglutina o batalhão

Cobrem-se de cor do infinito
São vistosos, revoltosos
Do começo da nação

Salvas nas ressalvas do passado
Chega o cheiro da fumaça
Descompassa o seu sofrer

Dança e descansa na lembrança
Do que foi a grande guerra
Ao lutar no Paraguai

Segure a arma, o bacamarte é esta arte
De saber fazer um tiro
De ilusão e tradição

Bacarmateiro, eu quero o coice deste tiro
Só assim eu sei que tiro
Tanta dor do meu viver

Um passo à frente 
Que a mesura apura o grito
Carrega o fogo que tem fogo pra brincar

Bacarmateiro
Vê se acerta em meu destino
Este tino em desatino sem calibre pra atirar."


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